quinta-feira, novembro 10, 2005

Mário Soares, Cavaco Silva e Shakira

Ora aí está um título difícil de repetir!

Muito curioso que volte a sentir necessidade de escrever aqui motivado pelo mesmo personagem – Mário Soares. Não se trata de alguma obsessão pelo homem ou pela personagem (longe disso…), mas tão-somente pelos motivos que Manuel Alegre apontava ontem numa entrevista à TVI – o jovem Soares não deixa o palco. Alimenta-se disso.

Conhecido o quadro de inevitabilidades político no qual escolheremos - de entre as opções que nos são dadas e sobre as quais temos pouco ou nada a contestar – o próximo Presidente, a coisa promete. Com Cavaco muito destacado nas sondagens, Manuel ‘outsider’ Alegre em segundo, Soares tem de arregaçar as mangas e fazer aquilo em que se sente mais à vontade: hard politics.

Estratégia: atacar frontalmente Cavaco na pose de estadista, técnico, rigoroso, sério, acusando-o de dominar apenas a economia e as finanças e questionando se não é preciso o humanismo, a filosofia, a história, o direito? Fê-lo numa entrevista à TVI e noutra à Visão.

Depois de uma falsa partida, ao anunciar a sua candidatura especificamente contra Cavaco (e não por qualquer desígnio, missão ou compromisso para com o País), Soares voltou à grelha de partida mas arrancou em marcha-atrás. O essencial das suas intervenções tem sido sobre Cavaco e – imagine-se! – Manuel Alegre. Obviamente que a comunicação social alimenta essa cognitividade, mas o tom crispado com que Soares responde não ajuda….

Visão: Há dois ano, quando o convidou para a casa-museu da sua família (…) afirmou que (Cavaco) era um bom candidato (…)

M. Soares: Era anfitrião desse convite. Cavaco foi lá, sem levar qualquer dinheiro, como todos os outros. (…)

Goes without further comments….

É interessante analisar a resposta do eleitorado a esta eleição. Se se manterá a tendência para um candidato sério, que personifica competência, método, a técnica e o domínio dos dossiers, mas algo frio e distante, ou se Soares conseguirá operar a reviravolta, baseado no populismo, na politiquice, na ausência de ideias ou propostas claras, no ataque pessoal. Ou se os eleitores dirão que querem uma mudança, escolhendo o candidato out of the mainstream, que concorre sem apoio da máquina dos partidos – Alegre.

De todo o modo, se se quer atacar Cavaco de forma séria, leia-se o artigo de Miguel Sousa Tavares no Público de 6.11 – O Mestre dos Silêncios.

«Agora que Cavaco se prepara (…) para ser meu Presidente, eu acho que chegou a altura de lhe exigir o fim dos silêncios convenientes.»

Caso contrário, os cidadãos continuarão desinteressados da política. E a entrevista de Shakira à SIC (36.7%de share) será sempre mais vista que a de Soares à TVI (30%).