quarta-feira, março 24, 2004

A irresistível tentação do poder

Muito do que me moveu, na decisão de criar um blog, foi a possibilidade de dispôr de um espaço onde pudesse registar comentários, pensamentos, etc., que considere relevantes.

Já o fiz a propósito da entrevista do filósofo Pinharanda Gomes, faço-o agora por razões bem piores.

O assunto: terrorismo (Al-Qaeda), no quadro dos atentados em Madrid (11M).

O protagonista: o incontornável Mário Soares.

Diz o sábio em declarações ao DN, citado no Expresso de 20.03.04:

«Mesmo que se trate de terroristas, se se quer algum dia terminar com isso tem de se negociar com eles, porque esmagá-los a todos não é possível».


Ele não consegue. É mais forte que ele - o problema é que há quem lhe dê atenção. Designadamente os jornalistas. Confesso que a minha interpretação destas palavras é, no momento presente, influenciada pela leitura do último capítulo do I Volume da Auto-biografia Política do Professor Cavaco Silva, dedicada precisamente à primeira fase da sua coabitação com Mário Soares, quando este foi Presidente da República.

Aí, Soares é descrito como um 'animal político' (sic), uma personalidade movida essencialmente pelo interesse próprio, carreirista e individual, alguém que mesmo ocupando o cargo do mais alto magistrado da nação, não deixava de se imiscuir na vida partidária, tanto do seu próprio partido, como assumindo ele próprio o lugar de oposição e de contra-poder.

É o Princípe.

Porém, tem-se excedido. Como não bastassem estas citadas declarações, vi-o ontem numa entrevista à SIC Notícias (mais outra...) afirmar, convicto e veemente, que soube imediatamente que não se tratava da ETA, mas indubitavelmente da Al-Qaeda.

Talvez fizéssemos um favor ao mundo se o deixássemos ser Primeiro-Ministro, Presidente, ou até Rei (Cavaco cita algumas das suas tentações monárquicas..) de vários Estados por essa Europa (e pelo Mundo, porque não??) fora, durante um mês.
Isto rapidamente iria ao lugar.

Tal como ficou patente na altura em que Soares tomou a sábia decisão de enviar um emissário conversar com Yasser Arafat. O processo de paz no Médio Oriente ainda hoje lhe agradece.

Quem sabe, se lhe pedirmos com a devida cerimónia e formalidade que se impõe a alguém com o seu estatuto, ele não se desloque às montanhas do Afeganistão ou do Paquistão, para trazer Bin Laden à razão?

Pela nossa parte, citamos naturalmente as vraiment sages palavras do Professor Adriano Moreira, em entrevista esta semana à RR/Público/2, instado a comentar as palavras de Soares: negociar equivale ao reconhecimento da legitimidade política destes actores.

A autoridade a quem a tem.

Sobre os efeitos práticos da liberalização dos combustíveis

Qual não foi o meu espanto quando hoje, circulando perto do Estádio Alvalade XXI, verifiquei que os combustíveis voltaram a aumentar!!!! O gasóleo perto dos 74 cêntimos (aumento de quase 2 cêntimos) e as gasolinas ultrapassam já, todas, um euro!!

Estes são os efeitos práticos da política de liberalização dos combustíveis, em vigor há poucos meses. O benefício continua a ser todo do Estado, que garante a arrecadação da sua margem de impostos e das gasolineiras que, em cartel informal, ditam os preços. O consumidor que suporte o peso e o preço da liberalização.

Os aumentos têm sido semanais!!! Será possível? O preço do barril de petróleo tem aumentado, bem certo. Mas quando esse preço baixar nos mercados internacionais, será que as descidas dos preços reflectirão proporcionalmente essa tendência? Serão descidas também semanais???

Intervirá o governo ou ao Autoridade da Concorrência?

Talvez se deva esperar por essa altura para se reflectir com seriedade sobre a reversibilidade desta medida de liberalização.

Num mercado pequeníssimo como o português, a concorrência não produz os efeitos clássicos.

É suposto o benefício ser também do consumidor? Certo?