sábado, fevereiro 21, 2004

It's been a while

Esta era uma das razões pelas quais sempre hesitei em criar um blog. Penso não ter tempo para o 'alimentar' da forma que eu desejo e que a utilidade do espaço justifica.

Estive um tempo considerável sem escrever...tive diariamente a vontade, mas faltou a cada minuto o tempo disponível. E às vezes a fundamental disponibilidade mental para vir aqui desabafar.

Fiz um dificílimo exame, sendo que o resultado parcial dessa empresa ficou aquém daquilo que me havia imposto a mim mesmo... tenho-me, entretanto, habituado a uma nova rotina diária com a qual me sinto em processo de integração. Na vida adulta.

É estranho. Sinto que vivo num processo de introspecção permanente. Não considero que isto seja algo de negativo, mas pode ser inibidor da formação da identidade. Vivo constantemente a pensar naquilo que quero ser, naquilo que quero fazer, que caminhos quero seguir, que vias devo colocar em 1º plano, em 2º, em 3º, que vias recuso seguir (a do sofrível, do superficial, designadamente!)...sinto que até agora tenho feito um percurso sobre o qual não tenho motivos de arrependimento de maior..

Mas dia-a-dia, debato-me com a ansiedade de querer ser tudo, de idealizar caminhos...de querer fazer um caminho sem mácula, coisa que qualquer pessoa de bom senso e com experiência da vida me dirá que não existe..There's no such thing, parafraseando alguém...

Tenho medo de escolher seguir um caminho, sabendo que é uma solução temporária, intermédia, esta opção me afaste daquilo que sonho, daquilo que me dará plena realização. Receio estar afastado das actividades onde sinto que podem ser tomadas as decisões relativas aos meus sonhos de carreira.

Hoje tou num desses dias. A força materialista dos factos oblige...

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Um sentir português

Interrogo-me muitas vezes sobre a natureza do nosso encantador povo português. E de quando em vez leio algumas coisas muito pertinentes, mas que são extraordinariamente paradoxais com a própria existência de um povo.

É o caso da entrevista do filósofo Pinharanda Gomes à revista Actual do Expresso, no dia 31 de Janeiro de 2004. Afirma:

«Um povo existe como consciência de si mesmo para o seu fim. Carece de a si mesmo se interrogar a cada momento e de a cada momento inquirir se está com rigor no seu curso, ou se acaso sofreu um desvio. (...) Um povo que não se pensa a si mesmo na relação essencial, axiológica, com o outro, não merece o privilégio de existir.»

Fundamental esta reflexão. Merecemos existir, em minha opinião, pois pensamos, numa espécie de tirada 'descartiana'. Pensamos sobre nós, mas é um pensamento viciado, estruturado em torno de 'clichés' como o do país triste, infeliz, pequenininho e à beira-mar plantado, portanto, periférico. Mas é aqui que reside o fulcro da questão. A perificidade geográfica é um determinismo inultrapassável; a perificidade no pensamento não.

O que sucede é que pensamos ainda presos ao passado, sempre esperando pelo D. Sebastião que por magia nos venha mudar a todos. O processo de mudança de mentalidades, de atitudes, de comportamentos é gradual, é isso mesmo, um 'processo'. Estamos numa fase de estagnação, que eu prefiro considerar aquele ponto da curva em que paramos para fazer o balanço do percurso. Tivemos altos e baixos; temos de conseguir discernir onde estamos, devemos conseguir pensar para onde queremos ir, com a capacidade realística de analisar os recursos que temos à nossa disposição.

Vamos sonhar, dia-a-dia, sempre com os pés sempre bem assentes no chão, mas com audácia e deixando de pensar pequeno.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Acabei por ceder e criei um blog.

Não que me venha a arrepender, mas talvez n lhe possa dar a utilidade que desejaria.

Isto não será um diário. N pode ser. Um diário é nosso; isto é património da comunidade, da dita 'blogoesfera'. Talvez por isso nunca possamos, neste domínio, ser completamente verdadeiros, 100% profundos e sinceros. Mas será que alguma vez o somos? Cada vez mais me move a convicção que ninguém nunca diz toda a verdade a quem quer que seja; nem a si próprio...

O espantoso desenvolvimento da 'blogoesfera' tornou este meio algo cosmopolita, como uma forma de afirmação ou de emulação. Não se escreve aqui apenas por nós e para nós próprios, individualmente considerados, como se encontrássemos finalmente um meio de projectar um alter-ego que possa ser tanto o nosso desabafo como a nossa consciência crítica.

Não;o ponto de desenvolvimento a que este microcosmos chegou faz com que os seus agentes, ainda que inconscientemente, escrevam também para 'consumo externo'. Há um desejo, inconsciente ou não, de ser lido, de ser escutado, de partilhar. Em cada um de nós há sempre um romancista em potência, um Sartre pronto a dar-se a conhecer ao mundo.

Eu vou tentar escapar a essa tentação. Afinal, apenas quero deixar de escrever notas soltas nos versos dos extractos do multibanco.