Relações, fidelidade e traição
A revista XIS, que sai com o Público aos Sábados, é uma publicação muito interessante. Especialmente agora que deixei de ler a Única, que é mesmo a única coisa que verdadeiramente ainda se aproveita do Expresso. (que deixei de comprar após a vergonha da manchete 'Freitas cansado no MNE' - temos pena, mas fui daqueles que leu efectivamente a entrevista....).
Bom, adiante.
Este Sábado, na XIS, uma interessantíssima análise dos relacionamentos, na perspectiva da (in)fidelidade. Começa por enquadrar a questão, mencionado uma alteração de paradigmas - o casamento, antigamente visto como uma mera etapa do percurso de vida, frequentemente uma aliança económica ou familiar, não tem nos nossos dias o peso que tinhaem termos financeiros ou de obrigações sociais ou familiares. É, essencialmente, uma aliança sobre sentimentos. (excepções existem, claro...)
Esta maior autenticidade trouxe igualmente novos problemas. Exigimos cada vez mais, hoje, no imediato. Temos de «aproveitar enquanto é tempo, pois os anos fogem e temos o direito a ser felizes.
Ponto central: vivemos uma época onde predomina o imediatismo e a sedução, no qual o amor pelo outro cede facilmente ao (...) culto do eu e do amor-próprio, sendo cada vez mais difícil preservarmos os laços e os sentimentos face ao desgaste do tempo e das solicitações exteriores... (profissionais, de amizade, de atracções por outras pessoas...)
O artigo problematiza da seguinte forma: o que procuramos?
Estudos sociológicos demonstram que cerca de metade dos homens e mulheres, pelo menos uma vez na vida, já enganaram os seus parceiros. Identificam-se motivos - falta de comunicação, de auto-estima, isolamento, monotonia sexual, vontade de testar a capacidade de sedução, jogos de poder ou mesmo impulsos de vingança. Como diz a sabedoria popular, 'procurar fora o que se não tem em casa'....
Um psicoteraupeta francês, Gérard Leleu, argumenta que: «a infidelidade é uma má resposta para uma boa pergunta». A boa questão seria: porquê este vazio? Resposta errada: procurar superá-lo de mulher em mulher ou de homem em homem. Este é o caminho mais fácil.
E adianta que «parar para pensar, pôr em causa o que nos acontece e o que sentimos, evitando fazer juízos de valor, dá trabalho. (...) É mais fácil ir vivendo ao som da 'comunicação leve', de telecomando na mão».
E um ponto desta argunentação tocou-me particularmente: o tempo é a dimensão-chave desta questão. Só ele nos permite encontrar o nosso eixo, o nosso ponto de equilíbrio e de integração.
Mais do que fórmulas mágicas, é a capacidade de sermos coerentes com os nossos valores, de estarmos atentos ao que acontece ao nosso lado, encontrando novas formas de compreensão, que faz a diferença.
A fidelidade pode, assim, ser encarada como uma filosofia de vida associada a um projecto comum e à qualidade dos afectos. E isto implica um trabalho a tempo inteiro, de exigência, de atenção, de perseverança.
Evitar que se quebre a corrente emocional passa, sobretudo, por provarmos ao outro que é único.
E se houver esta reciprocidade, temos uma força, um poder que gera uma secreta certeza e que pode mover montanhas. Chama-se amor.
Been there...fez-me crescer, ler este artigo e escrever este post.